ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 26.04.1990.

 


Aos vinte e seis dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sétima Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a assinalar o transcurso de mais um aniversário de Independência do Estado de Israel. Às dezessete horas e oito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalida­des presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita no Rio Grande do Sul; Dr. Israel Lapchik, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas no Rio Grande do Sul; Dr. Salus Finkelstein, Presidente da Organização Sionista Unificada no Rio Grande do Sul; Dr. Efraim Guinsberg, Grã-Rabino Ortodoxo no Rio Grande do Sul; Ver. Nelson Castan, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento e convidou os presentes a de pé, assistirem à execução dos Hinos Nacionais do Brasil e de Israel. A seguir, alunos do Colégio Israelita Brasileiro apresentaram número artístico. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Nelson Castan, como proponente da Sessão, afirmou ser esta a primeira vez que tem a oportunidade de homenagear a independência de Israel, que está completando quarenta e dois anos. Destacou a força das instituições na sociedade judaica. O Ver. João Dib, em nome das Bancadas do PDS, PFL e PSB, declarando ser filho de imigrantes, lembrou a importância de Bem David Gurion na luta pela independência do Estado de Israel. Comentou o extermínio de judeus realizado pelos nazistas. O Ver. Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PMDB e PL,  dizendo já ser tradição nesta Casa a comemoração da Independência de Israel, ressaltou que esse país começou a sua história há mais de três mil e quinhentos anos. Declarou ser descendente de judeus poloneses. E o Ver. Flávio Koutzii, em nome da Bancada do PT, registrou o clima distinto, de emoção, que toma conta da Casa cada vez que o Estado de Israel é homenageado. Analisou a importância crucial da constituição do Estado de Israel para o povo judeu. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita no Rio Grande do Sul, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Às dezoito horas e quatro minutos, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem a Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Nelson Castan, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Nelson Castan, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.     

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Ao ensejo de mais um transcurso do aniversário da independência do Estado de Israel, saudamos o povo israelita e os jovens que aqui estão, entusiasmados, diante de sua brava luta pelos ideais de liberdade, lembrando a todos que a paz, em qualquer lugar do mundo, é possível.

De imediato, convidamos a todos para, em pé, ouvir os Hinos do Brasil e do Estado de Israel.

 

(São executados os hinos.)

 

O SR. PRESIDENTE: De imediato, passamos a palavra ao Ver. Nelson Castan, para fazer o primeiro pronunciamento.

 

O SR. NELSON CASTAN: Senhor Presidente, demais presentes. Coube a mim, pela primeira vez este ano, a honra de homenagear a independência do Estado de Israel. No próximo dia 30 de maio, completam-se 42 anos de existência de uma das mais novas e fascinantes experiências nacionais de todo o mundo. Este é o meu dever como integrante da comunidade judaica tenho, permanentemente, a preocupação de zelar pelos seus interesses e auscultar as suas dificuldades e necessidades, buscando sempre ser um agente de ligação entre a coletividade judaica e a sociedade mais ampla em que está inserida.

O povo judeu sempre teve como uma das suas principais características a vivência comunitária. Desde o “shtetl”, passando pela trágica experiência dos guetos, até o Estado de Israel, a vida judaica tem como alicerce as suas instituições. A própria política de Israel reflete este pluralismo democrático. É fácil concluir que a atual situação de indefinição de poder em Israel reflete com exatidão um impasse que não é da Knesset, o parlamento, mas sim da sociedade organizada.

Israel, para os judeus da diáspora, representa um ponto de referência, algo que legitima a plenitude da cidadania dos judeus espalhados por diversos países. Vale dizer, em nosso caso, a existência do Estado de Israel amplia os horizontes de atuação cívica em nossa pátria brasileira. É este o exemplo que Israel tem dado ao mundo: o exercício pleno da cidadania e da democracia que estão presentes em cada esquina de Jerusalém e Tel Aviv. Assim como em Israel, o judeu da diáspora busca em suas instituições uma forma de preservação de valores milenares, sejam eles religiosos, culturais ou políticos. Esta estrutura comunitária funciona como uma escola de formação cívica.

Os habitantes de Israel adquiriram o direito à terra, independentemente de interpretações históricas, pelo trabalho que nela realizaram e realizam. Quando um grupo de judeus da Europa oriental decidiu partir para a então Palestina e, com suas mãos, trabalhar a terra, secar os pântanos, tornar fértil o chão inóspito neste momento selava o incontestável direito à posse. Quem cuida e prepara o solo, nela planta. Quem planta, pode colher. Quem colhe e de seu trabalho se alimenta, ama a terra e sobre ela deve construir seu lar e sua família.

Se foi o trabalho que gerou a matéria prima para a construção do país, é a ética judaica que cimentou a obra. É por isso que nós, brasileiros judeus, temos uma grande responsabilidade em contribuir para que Israel alcance uma paz duradoura, encontrando uma solução para a convivência com seus vizinhos árabes e com os palestinos. Para nós é um dogma a segurança e a integridade de Israel e de seus habitantes, mas devemos nos esforçar para, através do diálogo permanente e responsável, encontrar uma fórmula compatível para solucionar a permanente ameaça destruidora da guerra.

Devemos, da mesma forma, combater qualquer espécie de discriminação, por mais sutil que se apresente. O respeito à liberdade, aos direitos humanos e à busca incessante da paz devem continuar guiando as atitudes do povo judeu, que por mais de três mil e quinhentos anos se manteve vivo graças a estes preceitos. Assim, podemos aqui desenvolver na plenitude, como qualquer outro cidadão, o nosso trabalho político e social em defesa do povo que compõe a nação brasileira. Uma vez adquirida esta consciência ela passa a ser universal e aplicável a qualquer realidade.

Um exemplo que bem ilustra esta situação é o Colégio Israelita Brasileiro, aqui representado por seus alunos de oitava série e seus professores. O colégio é uma manifestação da identidade cultural integrada à sociedade porto-alegrense, pois mesmo preservando a sua natureza judaica, acolhe alunos de várias origens étnicas e culturais.

Para finalizar, cabe ressaltar que nós, brasileiros judeus, devemos sempre nos associar à luta contra a miséria, a desigualdade e a violência que assola o Brasil, País que escolhemos para viver e que amamos fervorosamente. É este o exemplo que Israel tem nos dado e que devemos nos esforçar para seguir: shalon, paz. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a  palavra o Ver. João Dib que fala em nome de sua Bancada, o PDS, em nome do PSB e em nome do PFL.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais presentes. Hoje estamos comemorando, como já é tradicional nesta Casa Legislativa, mais um aniversário da independência do Estado de Israel. Há poucos dias atrás o mundo judaico relembrou a epopéia do êxodo do Egito, acontecido há mais de três mil duzentos e oitenta anos, ou seja, a saída do povo escravo para ser levado por Moisés à Terra Prometida - Canaã, que depois seria Israel.

Sou filho de imigrantes como muitos dos aqui presentes, que chegaram ao Rio Grande do Sul e foram recebidos de braços abertos, ao passo que muitos irmãos nossos de outros países quiseram, ainda neste século vinte, emigrar para outros locais, como por exemplo Israel, e isso não foi possível. Estou me referindo, principalmente, aos judeus russos que neste ano de 1990, através da mudança na política soviética, estão podendo realizar o seu grande sonho de se juntar a seus irmãos e chegar a Israel e participar, também, das comemorações da independência do País (com seus “pianos”, como relata Moacyr Scliar). Não só irão participar de festas, mas também colaborar com o País que pela sabedoria de um gaúcho de Alegrete – Oswaldo Aranha – que soube compreender a importância de celebrar a Partilha na ONU, oportunizou que a quatorze de maio de 1948, David Ben Gurion declarasse a independência deste País, independência que hoje estamos comemorando o quadragésimo segundo aniversário. Israel, como cita Gitânio Fortes, da Folha de São Paulo, em recente artigo, teve sua última chuva da estação fria, caída no início deste mês de abril. O sul do País entra na época de seca, quando a temperatura chega a quarenta graus centígrados. É o período do ano que deu fama para a agricultura israelense. Vejam só o contraste: o nosso nordeste brasileiro sempre com seca e com projetos “engavetados”, elaborados por Israel...

Vamos continuar relatando que é nesta época que as áreas de plantio começam a receber os equipamentos de irrigação e tecnologia de ponta para obter produtividade elevada. Uma alta produção por área, aliada a um rigoroso programa de planejamento, que tem intervenção direta do governo, evitou que este setor entrasse em colapso após o plano econômico de julho de 1985 para derrubar a inflação. O índice caiu de 15% mensais para 15% anuais. Burlar o programa de estabilização econômica é quase impossível. É o governo que detém o controle sobre a água usada na agricultura, que vem do mar da Galiléia, no norte do País. Além desta água os agricultores israelenses passaram a usar, a partir do último mês de março, água reciclada do esgoto de Tel Aviv e cidades vizinhas. Depois do choque econômico de 1985 os israelenses partiram para um marketing agressivo da sua tecnologia. Israel venceu a falta de espaço com um modelo superintensivo. O País tem vinte e dois mil quilômetros quadrados, o equivalente a mais ou menos nove por cento da área do Rio Grande do Sul. São cerca de quatro milhões e quinhentos mil habitantes, o que equivale a cinqüenta por cento da população do nosso Estado. Atualmente, o Instituto de Exportação de Israel avalia que a exportação agrícola do País se situará na faixa dos quinhentos milhões de dólares. Já é um exemplo a ser seguido. Nós, que moramos num Estado que por diversas décadas foi denominado de “celeiro do Brasil”, deveríamos ter em Israel o maior símbolo. Somos um Estado tipicamente colonizado por imigrantes, assim como Israel recebe imigrantes de todo o mundo e que todos, de uma maneira ou outra, incentivam ou estimulam o engrandecimento daquele País com trabalho e muito trabalho. Até com seus pianos, pois sabem fazer música...

O importante de tudo, e eu como filho de imigrantes posso bem avaliar o que vou dizer é que, falando como o meu amigo David Iasnogrodski, em recente artigo publicado na imprensa local: “Devemos sempre mostrar aos jovens de hoje que jamais qualquer povo deve ser escravo”, ou seja, o símbolo de liberdade que lembra a Festa de Páscoa judaica nunca deve ser esquecido.

Parabéns a todos nós que podemos estar aqui a aplaudir os feitos que um país de apenas quarenta e dois anos de existência já pode e deverá mostrar ao mundo.

Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que muitos integrantes do povo judeu foram brutalmente sacrificados. Como exemplo maior citamos os seis milhões de judeus que foram mortos pela besta nazista. Devemos sempre lembrar seres humanos e, para tanto, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, solicito a todos os presentes, um minuto de silêncio em memória daqueles mártires judeus que há meio século, em pleno século vinte, foram retirados do nosso convívio, ainda que alguns tenham a coragem de contestar este fato.

Encerro lendo um tópico da Declaração de Independência de Israel: “Estendemos nossas mãos a todos os países vizinhos e seus povos numa oferenda de paz e boa vizinhança e apelamos a eles para estabelecerem vínculos de cooperação e ajuda mútua com o povo judeu soberano fixado em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para cumprir com sua parte no esforço comum para o progresso de todo o Oriente Médio“.

Em nome de Jeovah; em nome de Alá; em nome de Deus, Paz! Paz! Paz!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Isaac Ainhorn, que falará em nome do PDT, PL e PMDB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, convidados presentes. Praticamente diríamos, Sr. Presidente, e com o  testemunho  dos que aqui se encontram, neste momento, se constitui uma tradição desta Casa, tem sido, ao longo dos anos, data do calendário permanente das comemorações da independência do Estado de Israel, e isto, evidentemente, não se dá ao acaso. Isto, verdadeiramente, reflete o espírito que esta Casa tem manifestado ao longo dos anos.

O Estado de Israel, cuja independência faz hoje 42 anos, é perene lição de amor, de abnegação, de sacrifícios e, acima de tudo, de coragem. E, neste momento, quando nosso País percorre ásperos, difíceis e complexos caminhos, Israel nos traz exemplo na sua vitoriosa luta contra uma inflação que chegou a beirar os mil por cento e que foi vencida graças ao pacto social de sua gente que soube, com galhardia, colocar-se acima de seus interesses privados e momentâneos.

Mas a história de Israel não começa em 1948. Ela tem seu início há 3.800 anos, quando Deus disse a Abraão: “Parte para longe de tua pátria ... e dirige-te ao país que eu te indicar”. (Gênesis, 12:1).

E, começou, então, a longa migração do patriarca para a terra de Canaã. Ainda nos dias de hoje a rede de estradas, todas de excelente qualidade, que cortam o País, muitas vezes acompanham as antigas rotas e trilhas. Palmilha-se, assim, os mesmos caminhos que patriarcas e profetas hebreus percorreram, ao longo dos séculos.

E Israel, na antiga história de seu povo, legou à humanidade cultura e tradição, ainda hoje admirada através dos livros sagrados – a Tora e o Talmud – e contribuiu, à farta, às modernas técnicas científicas de nossa terra. De Moisés a Bem Gurion, a Shimon Pres e Shanir, passaram-se séculos, mas vivos estão os princípios libertários que foram traçados neste tempo: a constante luta e vigília contra o racismo, contra a discriminação e a defesa intransigente dos Direitos Humanos para as minorias de todo o mundo. Não se faz isto sem trabalho, sem desprendimento, sem amor à liberdade. E esta, já afirmei, em outras ocasiões, não se ganha, se conquista.

Podemos afirmar, sem erro, que a vida do Estado de Israel confunde-se com a história do povo judeu, marcada por lutas, dores e sofrimentos, mas, sobretudo, plena bravura e indômita vontade de vencer. Cabe, por questão de justiça, lembrar as palavras do inesquecível estadista Tancredo Neves, ao acentuar que “igualar sionismo ao racismo é mais do que um erro: é uma estupidez. No meu governo eu vou rever este comportamento”. A morte impediu a promessa feita. Mas desejamos que o novo governo do Presidente Collor, que começa dizendo ter iniciado um Brasil novo, não esqueça as palavras de Tancredo que é, sem dúvida, o clamor de justiça da maioria esmagadora do povo brasileiro: a anulação do voto anti-sionista na ONU para atender-se aos reais sentimentos da sociedade de nosso País.

Israel de hoje é uma realidade, cuja pujança e desenvolvimento são facilmente observáveis. Embora cercado de inimigos, seu povo não se intimida e busca, a todo o custo e com todas suas forças, a paz que almeja acima de todas as coisas. Shalon é, sem dúvida, a palavra mais pronunciada e que se busca concretizar na Nação Israelense.  Por isso, é sobremodo para mim, descendente que sou de judeus poloneses, participar dessa homenagem que, em boa hora, o Ver. Nelson Castan, de minha Bancada, teve a feliz iniciativa de propô-la. E, mais honroso ainda é falar em nome de meu Partido, o PDT.

Tive a felicidade de, no ano passado, visitar Israel. E, ainda mais gratificado me senti, quando o convite partiu do trabalhismo israelense e eu representava, na oportunidade, o líder do trabalhismo brasileiro, Leonel de Moura Brizola. Dois motivos de júbilo e de alegria sem par. E, por pouco tempo que lá estive pude, no entanto, conviver com os ideólogos do trabalhismo israelense e aprender com o povo quanto o Estado de Israel tem se preocupado com a paz e como esta é vital para sua própria felicidade. E observei, nas conversações, nos contatos, nas palestras, nas exposições, que a nação israelense é una, buscando sempre a paz, o progresso e o bem estar de cada um dos seus cidadãos.

Os 42 anos do Estado de Israel trazem a marca registrada dos judeus de todo o mundo: o sofrimento, a luta, a coragem. O novo Estado já tem marcas profundas de guerras. Seu solo está cheio de sepulturas de seus filhos. O sangue de israelenses já molhou a terra prometida. Não obstante, a férrea vontade de seu povo, a obstinada ânsia de vencer, característica do povo judeu, tem dado a este País resultados magníficos que servem já de exemplo para todo o mundo.

O Partido Democrático Trabalhista, que ora represento nesta justa homenagem à independência de Israel, congratula-se com a nação israelense e almeja, de todo o coração, que ela continue a desfrutar de seu elogiável desenvolvimento, mas tenha sempre, com ela, a paz que tanto almeja. Shalon.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tendo em vista o compromisso dos alunos a pedido dos professores que estão solicitando para se retirar, a Câmara como tinha compromisso com alguns alunos no início da Sessão de mostrar a Casa, nós gostaríamos de liberar os alunos e professores e ao mesmo tempo colocar a Casa ao inteiro dispor para outra visita, inclusive, para simularmos uma Sessão como se eles fossem os Vereadores. O interesse é nosso. Muito obrigado pela presença. Concedemos a palavra ao Ver. Flávio Koutzii que fala pela Bancada do PT.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; senhores e senhoras; autoridades da comunidade judaica. Este é o segundo ano de nosso mandato e a segunda oportunidade que delegados pela Bancada do Partido dos Trabalhadores, nós temos a oportunidade e a honra de representá-la e falar a cada um dos que aqui estão. O que eu senti já na outra oportunidade e mais uma vez, hoje, é que esta Casa que tem seus rituais, seus costumes e lógicas e dentre eles produzir reconhecimento de entidades e pessoas de nossa comunidade e, portanto, estes atos se repetem, com freqüência, aqui, dificilmente alcança ao que sinto muito nitidamente que é que quando se vem referenciar e homenagear o aniversário de independência do Estado de Israel como se o clima ficasse um pouco diferente, como se ele se impregnasse de uma sutil emoção, perceptível e clara. Estes são, talvez, os encontros mais importantes e isto, certamente, tem uma explicação, a explicação familiar a todos que estão aqui de que a constituição do Estado de Israel é um momento crucial na história do povo judeu. Não é exatamente uma revanche, mas é um ponto de começo e um ponto de chegada de um povo que não conseguiu, por séculos, constituir a sua Nação. Neste ano de 1990, nós estamos, todos aqueles que estão atentos ao desenvolvimento da sociedade humana e a da sua história concreta extremamente marcados pelo que acaba de acontecer e muito oportunamente nos países do leste europeu. Talvez um dos projetos mais generosos, da qual mais se deu também luta, sangue, sacrifício e se padeceu perseguições infindáveis que são aqueles que, identificados com o ideal do socialismo, tentaram construir nações mais justas, iguais, mostrou desnudamente uma face de deformações profundas de autoritarismo e de negação daquilo que era raiz daquele próprio movimento e da lógica daqueles que haviam inclusive morrido por esses ideais. Acho que longe de ser uma metáfora, uma parábola da sociedade contemporânea, é uma extraordinária exigência que coloca a nossa reflexão e, especificamente, entre outras, a comunidade judaica ao próprio Estado de Israel. Por mais irrigado de sacrifício e ideal que sejam os grandes movimentos da humanidade pela justiça e pela igualdade e pelo reconhecimento de direitos simples e elementares, como o direito a ter uma terra, o direito a encontrar paz e prosperidade. As raízes legítimas e generosas desses movimentos não garantem, necessariamente, que no correr dos anos, nos caminhos da história, entre os erros e acertos que a sociedade humana pode produzir sempre chegaremos no lugar dos nossos melhores sonhos. Acho que o alerta que fica, e me sinto à vontade, não só como homem judeu, mas como militante socialista a mais de 30 anos, capaz de encarar de frente os seus erros, e os dos meus irmãos de lutas, o que eu queria trazer, porque acho que vários aspectos aqui foram muito oportunamente lembrados pelos Vereadores que me antecederam, intervenções extremamente oportunas e felizes, em nome dos meus companheiros do Partido dos Trabalhadores, além da expressa posição partidária, mais uma vez reiteramos que o anti-semitismo é para nós inadmissível como o é qualquer forma de racismo, que a existência do Estado de Israel é uma realidade para nós indiscutível e respeitada e que o ponto – por isso tantos terminaram sempre falando de paz – que são os conflitos do Oriente Médio e a ausência de uma solução para a questão palestina que segue existindo, com toda complexidade que conhecemos, apesar dessas circunstâncias, nos parece que a comunidade judaica mundial está convidada a pensar que entre o que ela já conquistou daquilo que ela jamais recuará, pelas lições que cada um porta dentro de si e pela saga de sofrimento e perseguição que constituiu a maior parte da trajetória  em busca de uma nação e de um povo que desejava a paz, que é própria da história da cultura e, sobretudo, da memória do povo judaico, é preciso atentar, apesar de todas as paixões, apesar das marcas terríveis que todos nós portamos e lembramos, dos anos de perseguição, que o que é próprio da condição humana, o que é próprio da grandeza da condição humana é que nós temos que honrar o melhor de cada um de nossos sonhos, o melhor de cada uma das coisas que realizamos na nossa vida, produzindo, diariamente, um novo esforço de justiça, de igualdade, de equilíbrio e de amadurecimento. O desafio do Estado de Israel, nesse momento de extraordinárias modificações na realidade contemporânea, é que dele mesmo, sem abdicar de determinadas questões centrais para a sobrevivência do próprio Estado de Israel, consiga-se alçar à altura do dilema e da tragédia que vive o Oriente Médio e que, de fato, o caminho da paz seja um caminho trilhado e constituído e ganho, metro a metro, pelo melhor de cada um de nós, porque o que a história acaba de ensinar é que, finalmente, não há grandes ideais sem uma grande humanidade e sem um comportamento que expresse o melhor de cada ser humano. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul.

 

O SR. SAMUEL BURD: É com muita satisfação que nos encontramos nesta Casa, na homenagem ao 42º Aniversário da Independência do Estado de Israel.

É bem verdade que este ato é uma tradição do Legislativo de nossa Cidade que, no entanto, sensibiliza profundamente toda a comunidade judaica de Porto Alegre, cada vez que se renova.

O Estado de Israel tem uma grande dívida de gratidão para com o Brasil e para com o Rio Grande do Sul, pois um de seus filhos mais ilustres, o inolvidável chanceler Osvaldo Aranha, teve participação decisiva na memorável sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, que decidiu a criação do novo Estado.

Este nobre filho do Rio Grande, por suas qualidades e merecimento, encontrava-se, então, na presidência da ONU. Era um momento histórico. O mundo estava ainda sob o impacto do final da Segunda Guerra Mundial, na qual a humanidade havia pago o mais alto preço, em vidas e destruição, na luta contra o nazi-fascismo finalmente derrotado. Mas, nessa luta, coube ao povo judeu sofrer o mais trágico massacre da história universal, com seis milhões de mortos.

Osvaldo Aranha, gaúcho de Alegrete, com sua formação humanística, seu destemor nas grandes decisões e sua estatura de verdadeiro estadista abriu o caminho para o retorno do povo judeu à Terra Prometida. Se o Estado de Israel é o norte espiritual de todo o crente de fé judaica, no coração de cada um o nome de Osvaldo Aranha encontrará, sempre, o sentimento da gratidão.

Em um momento em que nosso mundo recebe, em todos os quadrantes, a brisa alentadora dos ideais democráticos, tornando realidade os anseios de liberdade e justiça social de todo o ser humano, constatamos que o jovem Estado de Israel, em sua região, já havia colocado em plena vigência estes mesmos ideais, desde o primeiro momento de seu renascimento assinalado pela Declaração de Independência.

Geograficamente pequeno e estrategicamente muito vulnerável, no entanto, alicerçado em seus ideais, é modelo de organização nos mais variados aspectos e, em especial, na garantia das liberdades e direitos individuais, assegurados constitucionalmente a todo o cidadão, sem discriminação de qualquer espécie. Em seu parlamento estão representadas todas as tendências de sua população, tanto dos cidadãos de origem judaica como de origem árabe. Ainda que, desde a sua fundação, tenha permanecido em constante estado de alerta, quer por confronto militar direto, quer no combate ao terrorismo, Israel jamais abdicou, jamais desistiu de sua disposição de solucionar, pacificamente, quaisquer problemas.

A paz com o Egito há apenas uma década, assim o comprova. Israel entregou um território maior que o seu próprio, pontos estratégicos de inquestionável valor, poços de petróleo em plena produção. Tudo isto era o preço da paz, Israel aceitou! Temos a convicção de que, muito em breve, alcançaremos a felicidade de ver estabelecida a paz, tanto no território de Israel, como em todo o Oriente Médio.    

Finalizando, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, desejo, em nome da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, órgão representativo da comunidade judaica do nosso Estado, agradecer  o nobre gesto dos senhores  integrantes desta Casa que, acolhendo a proposição do ilustre Ver. Nelson Castan, ensejaram a oportunidade desta homenagem, mostrando, mais uma vez, que a nossa egrégia Câmara Municipal honra e enaltece as suas tradições acolhendo, democraticamente, todos os segmentos da sociedade brasileira, independentemente de suas origens, sentindo que somente a união de todos, em um esforço comum, irá assegurar a felicidade e o progresso para a nossa Porto Alegre, para o Rio Grande e para o Brasil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h04min.)

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